quinta-feira, 30 de setembro de 2010



'E eis que ela descobre o porquê de ter começado a beber.
E quando digo beber, leia-se ficar bêbada.
Porque até então, só uma dose ou outra de feitiço (a bebida preferida de seu clã) já a deixava vendo estrelinhas.
Por que até então, ela bebia para dividir a felicidade que sentia.
Mas de um tempo pra cá ela passou a beber pra reencontrar essa felicidade, pra tentar se encontrar dentro de si mesma.
Sim, ela andava meio filosófica. Mas toda essa busca em seu “infinito particular”, nada mais era do que um mergulho no esquecimento, um afogamento de tristezas, problemas e desilusões.
E o que a princípio parecia ir bem, com o tempo foi mostrando sua ineficácia.
Porque uma noite que começa com a empolgação de um “eu sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também”, inevitavelmente, termina com um "Liga o som. E apaga a luz".
E de fato era o que acontecia. No fim da noite era sempre ela com ela mesma.
Era sempre o mesmo drama, as mesmas lágrimas escorrendo pelos mesmos motivos, a maquiagem borrada, a vergonha pela fraqueza exposta na face, o mesmo vazio corroendo por dentro.
E o que parecia uma noite promissora jazia no silêncio do quarto escuro, do abraço apertado na almofada de coração, o único coração que a acompanhava todas as noites.
E eis que ela resolveu parar de beber. Mas se a melodia da solteirisse parou de ecoar em sua mente, o clima de “a noite é longa e o dia sem graça” que começou a surgir, também não era dos melhores.
Chateou-se. Perdeu-se. Cansou-se da vida, das pessoas, de si mesma.
Até sua própria companhia a deixava entediada. Sua vidinha de “mais um na multidão” dava-lhe sono. Excluiu-se do mundo. Entrou em processo de abstinência de tudo o que lhe fazia mal.
Por fim, percebeu que o problema não era a bebida, mas ela mesma.
Pois bem, deixou de lado o clima de perdição, de filosofia, de dramas.
Ainda que fosse uma eterna Drama Queen, resolveu que tiraria férias deles por um tempo. Voltou a beber, mas agora deixando de lado a tendência a aprendiz de Bukowski para aprender que “no seu caminho não tem pedras, nem espinhos”, afinal “quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho?”
Pronto... teria ela achado finalmente a “chave do mistério”? Se assim o fosse, só bastaria agora “não temer tanto o medo de amar”. Mas pra isso não tinha mais pressa. Não, cansou-se da afobação do dia-a-dia. Resolveu deixar “portas e janelas sempre abertas pra sorte entrar".
Parou de crer no destino e reconhecer as incertezas da vida.
Mas em meio a esse turbilhão de não saberes, uma coisa ela sabia:
“Nada vai permanecer no estado que está. Coisas vão se transformar para desaparecer...''

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